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A última geração que vai ouvir rádio

Foto do escritor: Luana AndradeLuana Andrade



Quem ainda ouve rádio nos dias de hoje? Tv aberta, tv fechada, streaming de áudio, streaming de vídeo, youtube, tiktok, spotify, videogame, metaverso... em meio a tanta opção, como manter a relevância em meio a uma avalanche de possibilidades?

Esse foi o tema central da palestra que levei (junto com o amigo Thiago Ramos) para o Rio2c no último domingo, 01 de maio. Um assunto tão recorrente nas conversas informais, mas ao mesmo tempo tão velado entre os colegas da área, foi a provocação ideal para o dia do trabalho.

Falar de última geração de alguma coisa é falar sobre fim. Esse não é um lugar em que o rádio se viu apenas agora. Desde os primórdios da TV, o início da internet, a democratização dos streamings de áudio, redes sociais ou ainda ott’s, o meio é velado e fadado a acabar. Nisso se passaram 100 anos, completos neste 2022.

Mas, afinal, o que fez o rádio sobreviver e se reinventar durante todo esse tempo? Na verdade, nunca foi o meio, sempre foi o áudio.

Quando falamos de rádio, instintivamente somos remetidos ao objeto. Numa pesquisa boba pela palavra “rádio” no google, os resultados te remetem diretamente a um aparelho retrô. Não há nada que esteticamente te remeta a algo novo, moderno ou tecnológico e talvez por isso seja tão difícil falar de futuro quando começamos a conversa com esse estigma.



A parte boa, que aprendi ao longo dos anos de estudo sobre futurologia é que pensar sobre futuro é mais fácil quando temos um problema concreto no presente. E fica claro que aqui temos um problema.

Rádio sempre esteve associado a uma memória afetiva: um locutor que ouvimos com frequência, a voz que faz companhia nos dias de trânsito intenso, o som ambiente em consultório e aquela música que reparamos quando estamos no elevador. Quem nunca puxou assunto com um desconhecido a partir da playlist de elevador?

Esse olhar nostálgico não é apenas sobre o aparelho.

É, também, parte das memórias que temos associadas ao áudio.


Segundo dados levantados pela Kantar, alguns tirados do material “Data Storie – o som do novo”, lançado agora em abril, 130 milhões de brasileiros consomem algum conteúdo no formato de áudio, 82 milhões o consomem por meio do rádio diariamente e 25% dos ouvintes afirmaram que ter acesso ao rádio de maneira digital mudou a forma de enxergar e consumir o meio.

Quando se migra o olhar da jornada de consumo de rádio e passamos a observar a jornada de consumo de conteúdo de cada indivíduo, observamos que o áudio está inserido de maneira linear em diversos momentos do dia de uma pessoa. Isso mostra o potencial que o formato pode ter e ampliar o nosso olhar nesse desafio de pensar o futuro.

Num misto entre envolver essa memória afetiva, que normalmente é positiva, e abrindo o diálogo para novas oportunidades para se explorar o meio, destaco aqui alguns atributos que vendem a perenidade do formato:


Retenção - as mensagens são muito melhor absorvidas quando a gente escuta alguém. Lembra de como aquele professor do cursinho fez você entender trigonometria, coisa que nos livros e apostilas parecia impossível? Ou ainda quando apelamos para o áudio no whatsapp? Podem falar o que for, mas se você está escutando alguém e dispersa, não tem como voltar... Pode acelerar o áudio o quanto for, vai ter que ouvir de novo pra entender

Atenção - não adianta, pode acelerar o quanto for, se você não parar e prestar atenção no áudio que te mandaram no whatsapp, você vai ter que voltar e ouvir novamente. Uma ligação pode ser até 32% mais efetiva que um e-mail.

Dinamismo - nada é mais adaptável e diverso quanto o áudio. De quantas maneiras diferentes você pode contar uma história, construir uma narrativa, ou ainda explicar um raciocínio, ambientar um lugar, emocionar, ironizar ou ainda fazer rir por meio de mensagens, conversas, trilhas, sons? O áudio proporciona uma infinidade de possibilidades.

Identidade - quando a gente fala de conteúdo, criar algo que nos diferencie, algo que faça a gente ser lembrado, ou que provoque num futuro um gatilho de memória é ganhar na loteria. A nossa vida é feita de memórias associadas a sons, trilhas, vozes. Todo mundo tem uma trilha sonora, a música que lembra de uma data especial, o casamento, o nascimento do filho, aquele dia das mães, a voz dos nossos entes queridos ou sons que, por mais que não “digam” nada, fazem a gente entender a mensagem na hora. O temido gemidão do whats que o diga.

Oportunidade - o áudio é a forma mais natural de interação humana, o cérebro processa 22% melhor uma informação falada em comparação a vídeos. Mas, para além desses dados técnicos, o mercado de áudio, principalmente digital, ainda é muito incipiente. Mesmo na mídia online, a publicidade ainda reflete formatos tradicionais, seja com vinhetas de oferecimento, testemunhais ou spots no meio do conteúdo. O grande e maior desafio para o formato e para os meios que exploram o áudio é sair dessa bolha e inovar por meio do casamento entre publicidade e conteúdo de forma mais orgânica, relevante e interessante. Gosto muito do clipe comercial que a Vanessa da Mata estrelou para a Weswing, por exemplo. O case apresenta uma composição musical exclusiva que faz alusão aos produtos da marca de decoração, mas que trabalha a estética do vídeo como complemento de uma mensagem que quer fazer ser lembrada por meio da música. Acredito que só faltou tocar no rádio.


Dentro de tudo isso, por que então a gente se importa tanto com a plataforma e os meios?

Fica claro que, definitivamente, o meio não é a mensagem e poderíamos estar muito mais engajados em ideias e propostas de conteúdo que valorizassem valores mais orgânicos em linha com o que faz mais sentido para as pessoas.

Acredito que projetar e fazer o futuro não precisa passar pela morte de algo.

Essa é uma premissa que precisa (aí sim) morrer.

Se somos a última geração que vai ouvir rádio, eu não tenho como afirmar com tanta certeza, talvez até seja. Mas se ampliarmos essa discussão para o formato de áudio, ai posso garantir com mais certezas (e dados) que teremos muito tempo para evoluir, construir e criar. Nunca foi sobre o meio, sempre foi sobre o áudio.

Fica aqui para os interessados ver (ou rever) nossa palestra no #rio2c:


Quer trocar mais ideias sobre o assunto? Manda um alô pra gente!


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